6 de abr. de 2009


Mata Azul


*José da Silva e Albuquerque



Quando se sai por este mundão de meu Deus, quase sempre tangido pela necessidade, vamos deixando pedaços de nós mesmos aqui e ali, marcos do caminho percorrido, como se quiséssemos balizar a volta. Mas o inusitado, como um azorrague nos acompanha e dita os descansos e o campo de luta.

Vou aproveitar para escrever minha chegada a Porto Alegre no Itasussê. A modorrenta Porto Alegre dos anos trinta e nove que renascia no remanso das cinco da tarde, no esplendor de suas mulheres e no bulício que tomava conta da rua da praia.

Era domingo, fazia calor e era também dezembro; a cidade estava deserta. Eu vim para me demorar, por isso não tardei em procurar um lugar para onde meter meus alcotrefes, que com os livros, não eram poucos. Surpresa das surpresas: alguém gritou:

- Albuquerque!

Virei-me e um velho colega e amigo lá de Belém do Pará, vinha abraçar-me. São as surpresas tão in vero semelhantes que nos deixam perplexos. Não se preocupe, nesse calor o que assenta bem é um barril de chope. Pois tudo começou assim, e bem em frente a praça estava a bonança. Nos dessedentamos do corpo e da alma pois já nem me lembrava do banzeiro do navio, e com os pés fincados na terra já me sentia gaúcho potencial na euforia de minha mocidade, do álcool e do feitiço que adivinhei na terra, pegajosa como visgo.

Esses arranjos de chegada são como todos os outros e depende do humor de cada um, daquele que ama acima de tudo a embriaguez da novidade, ou daquele outro que se sente prisioneiro da meticulosidade. Eu queria acima de tudo me embriagar com os odores da terra e sentir-lhe o calor, pois o Mena Barreto me escaldara lá em Minas Gerais da Sibéria que me esperava lá nos pampas. O odor do Rio Grande me fazia lembrar meu adusto Cariri e eu comecei a me identificar com a terra natal que abraçara por opção.

Mas, de que vos quero falar é da mata azul. Não me lembro porque andava por aquelas lonjuras, nas cercanias do seminário de Viamão nos idos de 1939! Embevecido com a natureza, deparei-me com um trato de mata como nunca vira. Era a mata azul. Os pinheiros colgavam com suas copas de um verde esmaecido o azul do céu, e me deram a impressão de que céu e mata se fundiam em um só, já que nunca vira uma floresta nativa de Araucária, uma obra prima de uniformidade, como se todas tivessem o mesmo pulmão e de um hausto, todas pudessem respirar o mesmo céu.

O sol descambava lá no horizonte com essa preguiça pachorrenta de enfeitar a tarde com laivos carmesim de gradações infinitas. A luz do sol de soslaio iluminava a monumentalidade daqueles troncos retilíneos que alcançavam limites do céu e da terra, e no meu alheamento não encontrei nem lágrimas nem contrição para celebrar a ingenuidade de minhas primeiras crenças diante daquele monumento singular que a hora e o silêncio bendiziam.

Não pensem vocês que me abismara em ver a mata azul porque só vira os carrapichos de meu esquelético sertão. Não, eu já vira a mata tropical com seus liames de cipós, a tecedura que por vezes torna-a impérvia, e ai daquele que tem um bom terçado e se sente seguro para desafiá-la. Um aranhol de cipós pode estar a serviço da terrível unha de gato, que dilacera a roupa e, com ela, bons nacos de carne. Cem metros de mata, para quem não é mateiro, é o suficiente para sentir-se perdido e desorientado, porque a mata sufoca e não dá qualquer chance, senão o caminho inverso percorrido para a salvação.

Essa mata primitiva esta no fim, geralmente no pronto-socorro de alguma instituição ou mesmo na UTI de alguma universidade pública que este governo teima em destruir. Mas não nos poderemos esquecer que essa mata forneceu, por sua qualidade e dureza, o madeirame para o nosso surto, o primeiro, da agro industria açucareira.
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*José da Silva e Albuquerque, médico veterinário, paraibano que adotou o Rio Grande.
Observador, registrou suas impressões da cidade e do tempo em que viveu.




31 de mar. de 2009

Dia Nacional dos Centros Históricos

Portugal comemorou em 28 de março, na cidade de Castro Marim, o seu Dia Nacional de Centros Históricos, comprovando que, nessa questão, está à frente do Brasil. Iniciativa da Associação Portuguesa dos Municípios com Centro Histórico, a programação comemorou também os 199 anos do nascimento de Alexandre Herculano, nome maior das letras e da história de Portugal, considerado também o patrono nacional do municipalismo. Um dos temas das palestras revela a importância conferida ao assunto: Limitar o Centro Histórico, Delimitar a História”. O Brasil tem muitos motivos para realizar um evento semelhante e pode começar pela cidade de Porto Alegre, que desenvolve um trabalho importante nessa área.

16 de mar. de 2009

Proibida a publicidade no Centro Histórico do Rio

A prefeitura do Rio de Janeiro proibiu qualquer tipo de publicidade em locais e imóveis na área do Centro Histórico da cidade. São Paulo adotou políticas nesse sentido e grandes cidades no mundo inteiro, como Paris, por exemplo, que recebe cerca de 25 milhões de turistas por ano, também oferece aos visitantes uma paisagem ‘limpa’ do centro histórico. É um bom modelo para ser adotado também em Porto Alegre.

5 de mar. de 2009


Porto Alegre leva seu projeto de Centro Histórico a encontro internacional

Porto Alegre estará presente no VI Encontro Internacional de Cidade, Imagem e Memória, que se realizará em Cuba, nos dias 04 a 07 de maio. A presidente do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural de Porto Alegre (Compahc), engenheira Rita Chang, vai apresentar o projeto Centro Histórico de Porto Alegre – Resgate afetivo como polo comercial e cultural, no encontro promovido pela Faculdade de Construções e Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Oriente, em Santiago de Cuba.